Preciso voltar um pouco no tempo. Antes de entenderem o que Tuska se tornou, precisam conhecer o que ele foi.

O menino que viu seu pai morrer aos sete anos não tinha para onde ir. Sua mãe, Elara, era uma mulher frágil que trabalhava lavando roupas dos nobres por algumas moedas de cobre. Após a execução de seu marido, algo dentro dela quebrou. Ela ainda lavava as roupas, ainda esfregava até suas mãos sangrarem, mas seus olhos haviam perdido aquela centelha que separa os vivos dos que apenas respiram. Tuska observava sua mãe definhar, e a cada dia que passava, a raiva dentro dele crescia como uma chama alimentada por óleo.

Seis meses. Foi tudo que ela durou.

Encontraram Elara uma manhã, deitada em seu colchão de palha, com as mãos ainda enrugadas de tanto lavar roupas alheias. Os vizinhos disseram que foi o coração. Tuska, com apenas oito anos, sabia a verdade. Não foi o coração que parou. Foi a vontade de continuar junto a fome. E quando enterraram sua mãe em uma vala comum, junto com outros pobres sem nome, o menino Tuska morreu também. O que restou foi algo diferente. Algo duro. Algo perigoso.

Tuska passou os anos seguintes nas ruas. Roubava quando precisava, dormia onde podia, lutava contra outros meninos de rua por migalhas de pão. Aos doze anos, era conhecido como um dos meninos mais violentos dos becos da cidade baixa. Não porque fosse grande ou forte — era magro como um graveto —, mas porque lutava sem medo da dor. Apanhava, mas nunca parava de se levantar. E eventualmente, quem lutava contra ele cansava primeiro.

Foi assim que um tenente da guarda real o encontrou.

Havia uma briga em um mercado. Tuska, agora com quatorze anos, estava sendo espancado por três garotos maiores que haviam roubado o pão que ele havia roubado primeiro. O tenente, um homem chamado Vorik, parou para observar. Viu o menino magricela levantar-se pela quinta vez, sangue escorrendo do nariz, olhos inchados. Viu-o agarrar uma pedra e acertar o maior dos agressores no rosto com força suficiente para quebrar dentes. Os outros fugiram. O menino caiu de joelhos, ofegante, mas de pé.

"Você não sabe quando desistir", Vorik disse, oferecendo a mão.

"Desistir é morrer", Tuska respondeu, ignorando a mão e levantando-se sozinho.

Vorik sorriu. Era o tipo de sorriso que um lobo dá para outro lobo. Reconhecimento.

"Como você se chama, garoto?"

"Tuska."

"Bem, Tuska. Que tal canalizar toda essa raiva para algo produtivo? A guarda real está recrutando."

E foi assim que Tuska, aos quatorze anos, entrou para o exército da monarquia. Não porque amasse o rei. Não porque acreditasse em honra ou glória. Mas porque viu uma oportunidade. Uma oportunidade de nunca mais passar fome. De nunca mais ser pisoteado. De se tornar aquele que pisa.

Os primeiros meses foram brutais.

Havia cinquenta recrutas naquele ano. A maioria eram filhos de camponeses, alguns órfãos como Tuska, todos desesperados o suficiente para venderem seus corpos à guerra. O treinamento começava antes do amanhecer. Corriam até vomitarem. Treinavam com espadas de madeira até as mãos sangrarem e formarem calos. Aprendiam formações, táticas básicas, como seguir ordens sem questionar.

Mas o verdadeiro treinamento, Tuska descobriu, não era físico.

Havia um instrutor chamado Sergeant Grimm. Ele tinha uma cicatriz que atravessava todo o rosto, da testa até o queixo, passando por onde deveria estar seu olho esquerdo. Grimm havia lutado em doze campanhas militares. Havia matado, segundo sua própria conta, mais de cem homens. E ele tinha um método particular de ensino.

"Guerreiros não nascem", Grimm dizia, caminhando entre os recrutas enfileirados. "São forjados. E a forja mais importante não é do corpo. É da alma." Ele parava, seu único olho bom examinando cada rosto jovem. "Vocês precisam aprender a matar. Mas antes disso, precisam aprender a não sentir."

Tuska estava na fila, magro mas de pé firme. Ao seu lado estava um garoto chamado Joren. Ele tinha apenas quinze anos, cabelos loiros e olhos azuis que ainda guardavam inocência. Joren havia se alistado porque seu vilarejo fora destruído por bandidos. Ele queria justiça. Queria proteger pessoas. Era o tipo de ingenuidade que não durava muito no exército.

"Você", Grimm apontou para Joren. "Venha aqui."

Joren avançou, nervoso.

"Pegue esta espada", Grimm estendeu uma lâmina real, não de treino. O metal brilhava à luz fraca da alvorada.

Joren a pegou, confuso. "Senhor?"

"Amanhã, iremos em uma missão. Há um grupo de desertores escondidos nas colinas ao norte. Covardes que fugiram de suas obrigações." Grimm cuspiu no chão. "Vamos caçá-los. E você, garoto, vai ter sua primeira lição prática."

Na manhã seguinte, vinte recrutas marcharam com Grimm e outros cinco instrutores veteranos. Tuska estava entre eles. Joren também. A caminhada durou três horas até chegarem a uma caverna nas colinas. Lá dentro, acuados como animais, estavam sete homens. Ex-soldados, alguns feridos, todos exaustos.

"Esses homens", Grimm anunciou em voz alta o suficiente para ecoar na caverna, "traíram o rei. A punição para traição é morte." Ele olhou para Joren. "Você vai executar aquele ali." Apontou para um homem de aproximadamente trinta anos, que tremia visivelmente.

Joren ficou pálido. "Senhor... ele está desarmado..."

"Sim. E?"

"Eu... eu não posso simplesmente..."

"Então você é um covarde também?" A voz de Grimm era gelo. "Você jurou servir ao rei. Jurou seguir ordens. Agora está questionando?"

As mãos de Joren tremiam segurando a espada. Ele olhou para o desertor, que agora chorava abertamente, implorando por misericórdia. "Por favor", o homem dizia, "eu tenho família... tenho filhos..."

Joren não conseguia se mover. Lágrimas começaram a descer pelo seu rosto jovem.

"Patético", Grimm cuspiu. Ele virou-se para outro recruta. "Você. Faça isso."

Mas antes que o outro pudesse se mover, Tuska deu um passo à frente. "Eu faço."

Grimm arqueou a sobrancelha. "Bem, bem. O órfão das ruas. Acha que tem estômago para isso?"

Tuska pegou a espada da mão trêmula de Joren sem responder. Caminhou até o desertor. O homem olhou para ele, para aquele garoto de quatorze anos com olhos mortos, e entendeu que não haveria misericórdia ali.

"Rápido", Tuska disse. Não era crueldade. Era pragmatismo. "Vou fazer rápido."

E fez. Um golpe limpo no pescoço. O homem caiu instantaneamente. Tuska limpou a lâmina na roupa do morto e devolveu a espada para Grimm.

"Eficiente", Grimm assentiu com aprovação. "Mas você errou uma coisa, garoto."

"Senhor?"

"Você avisou. Nunca avise. A clemência vem da surpresa, não da promessa." Grimm virou-se para os outros recrutas. "Observem."

O que se seguiu foi uma lição que Tuska jamais esqueceria. Grimm e os outros veteranos não simplesmente executaram os desertores restantes. Eles os fizeram sofrer. Um levou um golpe no estômago, caiu no chão gemendo, levou minutos para morrer enquanto se afogava no próprio sangue. Outro teve os tendões cortados primeiro, depois foi deixado sangrando até a morte. Os recrutas observavam, muitos vomitando, alguns chorando.

"Vejam", Grimm explicava enquanto o sofrimento continuava, "há um propósito nisto. Terror. Quando histórias sobre o que fazemos chegam aos ouvidos de outros potenciais desertores, eles pensam duas vezes. Matar é fácil. Qualquer idiota com uma faca pode matar. Mas um verdadeiro guerreiro conhece mil maneiras de matar um homem. Conhece qual morte envia qual mensagem. Morte rápida? Respeito ao oponente honrado. Morte lenta? Aviso aos que pensam em trair."

Joren caiu de joelhos e vomitou. Tuska permaneceu de pé, observando tudo com expressão neutra. Por dentro, algo nele gritava. Mas ele sufocou aquele grito. Enterrou-o profundamente. Porque entendeu algo fundamental naquele momento: o mundo não era governado por bondade ou justiça. Era governado por medo. E ele nunca mais seria o que tem medo. Seria aquele que causa medo.

Nos anos seguintes, Tuska provou ser um dos melhores recrutas daquela geração. Aprendeu não apenas a lutar, mas a pensar estrategicamente. Estudava à noite à luz de velas roubadas, memorizando táticas de batalhas antigas, entendendo movimentos de tropas, logística militar. Aos dezoito anos, já era cabo. Aos vinte e dois, tenente. Aos vinte e cinco, capitão.

Joren, aquele garoto de olhos azuis que não conseguiu executar o desertor, nunca avançou além de soldado raso. Ele sobreviveu, sim — aprendeu a matar quando necessário —, mas algo dentro dele permaneceu quebrado. Tornaram-se conhecidos, ele e Tuska, embora nunca amigos. Havia respeito mútuo, do tipo que só existe entre aqueles que compartilharam horror.

Anos depois, quando Tuska já era o temido comandante militar da monarquia, Joren o procurou. Eles estavam em uma taverna, após uma campanha vitoriosa contra bandoleiros no sul. Joren, agora com trinta e dois anos, cabelos começando a branquear prematuramente, tomava coragem em goles de cerveja barata.

"Você se lembra daquele dia?" Joren perguntou de repente.

Tuska sabia exatamente a qual dia ele se referia. "Lembro."

"Como você conseguiu? Fazer aquilo sem... sem sentir nada?"

Tuska olhou para o fundo de sua caneca por um longo momento. Quando falou, sua voz era baixa, mas carregava o peso de anos. "Eu senti. Mas aprendi que sentir não muda nada. O homem ainda estaria morto. Eu ainda teria que viver com isso. Então escolhi enterrar os sentimentos onde não pudessem me enfraquecer."

"Isso não te assusta?" Joren pressionou. "Não ter mais... empatia?"

"Todos os dias", Tuska admitiu, e por um breve momento, o comandante militar desapareceu e o menino órfão emergiu. "Mas o mundo não tem lugar para os fracos, Joren. Aprendi isso quando vi meu pai ser executado por roubar pão para nos alimentar. Aprendi quando minha mãe morreu de fome e desgosto e ninguém se importou. A empatia é um luxo que apenas os poderosos podem pagar. Eu não era poderoso. Então escolhi me tornar."

Joren balançou a cabeça tristemente. "E agora que você é poderoso? Agora que é um dos homens mais temidos do reino?"

Tuska riu, mas não havia alegria naquele som. "Agora descubro que o poder não preenche o vazio. Apenas o torna mais profundo."

Eles beberam em silêncio após isso. Dois homens moldados pela mesma brutalidade, que escolheram caminhos diferentes através do inferno. Joren manteve sua humanidade ao custo de nunca avançar, de carregar pesadelos todas as noites. Tuska sacrificou sua humanidade para subir, para nunca mais ser a vítima. Nenhum dos dois estava feliz. Mas ambos estavam vivos.

E talvez, no mundo cruel em que viviam, estar vivo já fosse vitória suficiente.

Anos mais tarde, quando Tuska reuniu seus quatrocentos e noventa e oito homens para marchar contra os asselvajados, Joren estava entre eles. Ainda apenas um soldado, ainda carregando aqueles olhos que viram demais. Quando Tuska fez seu discurso antes da partida, falando sobre ordem, civilização, o dever para com o rei, Joren observava seu antigo companheiro de recruta e se perguntava se ainda havia algo humano por trás daquela armadura de autoridade.

A resposta viria em breve. Nas terras do Oeste-Noroeste, onde asselvajados começavam a sonhar com liberdade, onde uma mulher chamada Mireth se recusaria a se curvar. Ali, Tuska seria testado de maneiras que nenhum treinamento poderia prepará-lo. Porque é fácil matar quando te ensinam que o inimigo é menos que humano. Mas o que fazer quando olha nos olhos do inimigo e vê sua própria mãe? Sua própria infância? Seus próprios sonhos perdidos?

Essa era a pergunta que Tuska ainda não sabia que precisava responder. Mas o destino, implacável como sempre, já preparava a sala de aula. E a lição seria escrita em sangue.

Grimm, aquele instrutor brutal com a cicatriz atravessando o rosto, morreu três anos antes da expedição aos asselvajados. Morreu de velhice, pacificamente em sua cama — uma ironia cruel para um homem que havia dedicado a vida a matar e ensinar a matar. Suas últimas palavras, segundo a enfermeira que cuidava dele, foram: "Perdi a conta. Não sei mais quantos homens matei. Não lembro mais seus rostos."

Tuska esteve em seu funeral. Poucos outros compareceram. Enquanto observava o caixão sendo baixado, pensou em todas as lições que aquele homem terrível lhe havia ensinado. Sobre matar eficientemente. Sobre usar o terror como ferramenta. Sobre enterrar a empatia onde ela não pudesse interferir.

E pela primeira vez em anos, Tuska se permitiu uma pergunta perigosa: quantos homens eu matei? Quantos rostos eu esqueci?

Não tinha resposta. E isso, mais que qualquer coisa, assustava-o.

Mas o medo, como sempre, foi enterrado profundamente. Havia trabalho a fazer. Asselvajados a controlar. Uma ordem a manter. O menino que chorou por seu pai estava morto há muito tempo. O que restava era apenas o soldado. O comandante. A ferramenta afiada da monarquia.

E ferramentas não sentem. Apenas cortam.

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Tuska - O Menino que Conheceu o Poder

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Escrito por Jackson Porciúncula

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