Os relatos que você lerá fazem parte de grandes acontecimentos do passado, de uma história que será contada em um livro. Os relatos aqui apresentados remontam há mais de seis séculos — não existe uma data precisa, e nenhuma linha do tempo fora estabelecida até o momento.

A Guerra dos Cem Mil (A Grande Guerra) foi um conflito iniciado por disputas territoriais, quando algumas colônias de asselvajados começaram a protestar contra as inúmeras exigências da monarquia como um todo e a falta de liberdade religiosa e econômica de modo geral (não era permitido culto religioso para evitar conflitos ideológicos, expansão territorial para evitar alianças contra a monarquia, e outras restrições). Alguns asselvajados evoluíram gradualmente nessa época, envolvendo-se em atividades como plantios, colheitas, construções e desenvolvendo alguma organização militar simples — o que representava uma ameaça direta ao plano de expansão instituído por Tuska e seus oligarcas. Diante dessa situação, Tuska e seus oligarcas convocaram seus melhores homens para caçar os revoltos, na tentativa de frustrar qualquer plano que ameaçasse o rei. Em uma primeira tentativa pacífica, Tuska e seus quase quinhentos homens infiltraram-se nos povos que habitavam a região Oeste-Noroeste (atual Dualla). No início, encontraram algumas insurgências por parte de líderes religiosos pagãos — todo e qualquer culto que não fosse prestado unicamente ao rei era considerado como “rebeldes líberos”. Posteriormente, outros povos também se rebelaram contra Tuska, mas ele conseguiu controlar a situação, embora com dificuldade. Embora muitos dos asselvajados estivessem mais preocupados com a agricultura e a domesticação de animais, os quase quinhentos homens de Tuska sofreram represálias seguidas de ataques violentos, levando-os a recuar e sofrer baixas em todos os territórios.

Tuska foi persuadido de que tais insurgências poderiam lhe causar problemas e que novas culturas poderiam influenciar diretamente seu povo, ameaçando seus planos. Em sua primeira retirada, ele fez um tratado com o objetivo de separar a região Norte-Noroeste do Norte ao Leste (local de alta concentração de revoltos); além disso, exigia que todos os líderes, apoiadores ou não, o reconhecessem como “único mediador da paz entre todos os reis do mundo e dos ‘deuses’ aos quais eu detenho total controle”. No entanto, a aprovação de todos os líderes reconhecidos pela coroa, pelos oligarcas e pelos líderes maiores para tal reconhecimento fracassou miseravelmente. Tuska perdeu importantes apoiadores. Após a sua primeira expedição bem-sucedida em busca de aliados no Oeste-Sudoeste, Tuska percebeu que a única chance de alcançar o poder total seria através de alianças. Assim, partiu para a região marítima do Nordeste, onde conseguiu recrutar mais homens. Um ano depois, Tuska liderou um massacre em Baushar (atual Valvarror), nos Saldomitas do Norte (atual Evalônia) e, finalmente, em outras regiões onde os “convertidos” lutaram ao seu lado — mas também questionaram seus métodos. Porém, a investida de Tuska foi abruptamente interrompida pelos oligarcas e líderes maiores, o que gerou um período de “silêncio”. Apesar disso, Tuska obteve sua primeira vitória, e o “ut expanding” ganhou força.

Em outro cenário, Ipecar I liderou uma expedição a partir de uma das ilhas do Norte de Hipóris, no outro continente. Ele comandava sessenta mil homens em milhares de embarcações, algo nunca visto pelos revoltos, embora Tuska já conhecesse o potencial daquelas terras. Ipecar I chegou a Baushar em ruínas, devastada, com poucos sobreviventes e líderes em declínio. Rapidamente, Ipecar I estabeleceu-se no Sul-Sudeste daquele continente, denominado Azequel, explorando estrategicamente a região e planejando como impor o seu domínio através das rotas comerciais e fontes de riqueza. Aos seus seguidores, ele declarou: “Primeiro, exploraremos; depois, ajudaremos as colônias a se reerguerem e se tornarem independentes. Levem essa mensagem imediatamente aos sobreviventes”.

Enquanto Tuska governava a região do Oeste-Noroeste e Ipecar I explorava o Sul-Sudoeste de Azequel, duas grandes áreas que haviam sido invadidas por Tuska e seu exército foram retomadas por um novo líder revolto chamado Erduriar, mesmo com um número inferior de seguidores. Erduriar conhecia tão bem a região do Norte-Nordeste que começou a fornecer ajuda para aqueles que desejassem retomar suas terras. No entanto, seu forte nacionalismo foi explorado estrategicamente por Ipecar I quando, em um encontro inesperado, Ipecar I tomou metade das terras conquistadas por Erduriar, resultando na prisão deste último. Posteriormente, em comum acordo, Erduriar decidiu ajudar Ipecar I em sua expansão territorial. Seu grande feito foi convencer Ipecar I a permitir que ele soubesse das colônias ao Norte-Noroeste de Azequel, exatamente próximo aos locais onde os homens de Tuska haviam demarcado a divisão territorial separatista. Contudo, Erduriar enfrentou grandes dificuldades contra o poderoso exército de Tuska, e trouxe relatos decepcionantes para Ipecar I. O novo combatente estava desmotivado, mas foi aconselhado a refazer seu plano de expansão e conquista em preparação para uma possível guerra.

Nessa época, todos começaram a olhar para o grande império conquistado por Tuska, seus abastados, seus oligarcas e alianças, o que levou Ipecar I a considerar a possibilidade de uma guerra devastadora. Ele pretendia iniciar uma das batalhas mais sangrentas de todos os tempos. Foi então que Erduriar decidiu buscar novos recursos, embarcando em uma viagem que levaria anos, atravessando os mares que o levariam de volta a Hipóris. Enquanto isso, Tuska instituiu uma academia militar para treinar novos cavaleiros com diversas especialidades. Os quarenta mil homens espalhados por quase todo o território do continente formavam o “segundo” maior exército do mundo, conhecido como os Cavaleiros do Fogo. Enquanto Tuska se preparava, Ipecar I não tomava nenhuma ação, acreditando apenas na quantidade de homens, em vez da qualidade. Embora Tuska tenha perdido alguns homens em batalhas travadas pelos revoltos traidores, seus generais continuavam a treinar homens constantemente. Ipecar I havia deixado Erduriar com cinquenta mil homens e a ordem era clara: se ele obtivesse sucesso, avançariam, caso contrário, apelariam para uma nova frota e recursos vindos de Hipóris. Tuska recorreu a uma medida inimaginável: fundar sua própria religião. Em um discurso, declarou: “Pela fé e proteção do reino e do rei, sob o julgo de um único deus é que todos devem se curvar; abaixo do seu ‘servo maior’, o único capaz” — uma indireta mensagem sobre ele. No entanto, essa decisão causou uma nova revolta entre seus apoiadores, levando mais homens a se unirem ao exército de Ipecar I, sob o comando de Erduriar. A “heresia” propagada por Tuska resultou em conspirações de pessoas, povos, famílias e líderes contra ele. Milhares de soldados desertaram novamente, formando novos grupos de oposição.

As tensões aumentaram rapidamente, e Tuska, perplexo, questionava por que deveria temer aqueles que não estavam empunhando armas contra ele. Aproveitando essa situação, Ipecar I retornou às terras que havia deixado, acompanhado de mais dez mil homens, e declarou uma invasão total nas terras do Norte ao Leste. Com isso, a guerra dos 100 mil (ou, como ficou conhecida após o seu término, A Grande Guerra) teve início.

Tuska liderava um exército de 40 mil homens, enquanto Erduriar contava com 100 mil homens quando a guerra começou. No entanto, ficou evidente que Erduriar não estava preparado para liderar em tempos de guerra e acabou sendo manobrado por Ipecar I. A guerra não durou muito, pois Erduriar foi morto em batalha, em uma tentativa considerada como “a última resistência dos revoltos”. Dias antes, Ipecar I havia fugido do campo de batalha, ciente de que não conseguiria vencer aquela guerra. Os poucos aliados que restaram renderam-se a Tuska, e muito tempo depois, ele encontrou os restos mortais de um homem enforcado no topo de uma montanha esquecida, no Sul-Sudoeste de Azequel (atual Valvarror).

Carregando Casa dos Escritores...

A Guerra dos Cem Mil — Um conto sobre histórias antigas

Gostou do que leu?

Escrito por Jackson Porciúncula

Comentários (0)